POR: Humberto de Oliveira Lacerda¹

Neste dia 14 de maio de 2013, Ouricuri celebra os 110 anos de sua emancipação política. Contudo, sabemos que há uma história antes da emancipação, na qual Ouricuri foi sendo constituída aos poucos por pessoas oriundas de outras terras que aqui fixaram residência. Para realizarmos uma análise contemporânea mais concisa, partiremos pelo princípio das origens desta terra querida.
Consideremos então o resumo da história de Ouricuri feito pelo professor Lécio Lima dos Santos², quando da elaboração do roteiro para um documentário sobre o município:
Os primeiros registros sobre a região datam do século XIX sobre uma extensa fazenda de gado de propriedade de dona Brígida Alencar. Partes desta fazenda foram vendidas ao casal João Pereira Goulart e Doana Maria de Souza Goulart. Este casal fixou residência em uma região onde o pasto era mais abundante para o gado e denominaram esta região de Aricuri, que significa "duas serras juntas".
Em 1839, o juiz da Comarca de Boa Vista, Alexandre Bernardino Pires fixou residência na região, fugindo de uma peste então chamada de "Carneirada". Em 5 de abril de 1841, o Pe. Francisco Pedro da Silva, oriundo da cidade de Sousa, no estado da Paraíba, comprou terras de D. Brígida a fim de erguer uma capela em homenagem a São Sebastião. Ao transferir a propriedade, o padre mudou o nome para Ouricuri, nome de uma palmeira. Assim, o desenvolvimento do povoado ocorreu pelas atividades agropecuárias e em torno da capela.
Atualmente Ouricuri conta com aproximadamente 70 mil habitantes. Cidade centenária com 107 anos de independência administrativa, emancipada através da Lei Provincial nº 606 do dia 14 de maio de 1903. Nos seus 107 de autonomia administrativa, sofreu diversas transformações geográficas em seu território, pela emancipação de diversos distritos que se transformaram em cidades, a exemplo de: Araripina (Ex São Gonçalo) Ipubi (Ex Poço Verde), Santa Cruz, Santa Filomena, São Félix (atual Feitoria) que passou a pertencer a Bodocó quando da sua emancipação.
Percebemos no texto acima que o desenvolvimento da cidade sofreu influência impactante da religiosidade popular, na qual o Padre Francisco Pedro da Silva (paraibano, considerado o fundador da cidade) comprou terras de Dona Brígida para erguer uma capela em homenagem a São Sebastião, atual padroeiro da cidade de Ouricuri. Todos os anos, milhares de fiéis da cidade e de toda a região do Araripe, além de filhos de Ouricuri em localidades mais distantes, vem ao município celebrar o novenário alusivo a São Sebastião, uma das principais festividades religiosas do Estado de Pernambuco, que se dá no mês de janeiro, sendo o dia 20 feriado municipal (dia de São Sebastião). O padre colocou o nome do local a ser chamado de “Ouricuri”, nome de uma palmeira, e através da prática da agropecuária em torno da capela foi ocorrendo, aos poucos, o povoamento do local. A emancipação de seu através da Lei Provincial nº 606, de 14 de maio de 1903, adquirindo, assim, autonomia administrativa. A construção da Igreja Matriz de São Sebastião teve início em 1847 e veio a ser concluída 18 anos depois, em 1865.
Daqueles dias até a Ouricuri contemporânea, muita coisa mudou. Distritos que antes pertenciam ao município, a exemplo de Santa Cruz, Santa Filomena, Araripina (ex-distrito São Gonçalo) e Ipubi (ex-distrito Poço Verde) foram também emancipados, sendo desvinculadas de Ouricuri. Temos ainda o distrito de Feitoria (que pertence a Bodocó) e o Povoado da Varzinha (que agora pertence ao município de Santa Cruz) e o Povoado do Socorro (atualmente pertencendo à cidade de Santa Filomena). Tudo era parte do extenso território de Ouricuri e eram também vinculados administrativamente à cidade.
Vale ressaltar a marca histórica celebrada em Ouricuri devido a participação de soldados voluntários no advento da Guerra do Paraguai, inclusive sendo destaque no hino de Ouricuri os chamados “homens bravos” de uma terra destemida e berço de heróis, sendo agraciados com uma linda bandeira em honra à bravura dos soldados ouricurienses, a qual foi entregue pelo Imperador Dom Pedro II, conforme observamos no Hino de Ouricuri:
Letra: Baltazar Marcondes & Maria José Virgínio
De uma palmeira
Nasceu o teu lindo nome
De homens bravos
Nasceu a tua glória
Do esplendor do teu Santo Padroeiro
Nasceu tua fé, teu misticismo.
Oh! Terra heróica grandiosa
Destemida, berço de heróis!
Terra de luz e de pureza
Enfeitada com medalhas
De heróis voluntários
Pela coragem, pela honra.
bebem orvalho das mãos de Deus
Oh! Terra heróica grandiosa
Destemida, berço de heróis!
Assim como o teu solo
E teus campos
Bebem o orvalho das mãos de Deus
Teus filhos num ato de esperança
Bebem em ti
crenças e amor.
Oh! Terra heróica grandiosa
Destemida, berço de heróis!
A ti, soldado voluntário
Pela coragem, pela bravura
Ouricuri na Guerra Paraguaia
Nasceu tua glória, teu esplendor.
Oh! Terra heróica grandiosa
Destemida, berço de heróis!
Pedro II, grande imperador
Linda bandeira, presentiou
Os filhos de Ouricuri
Pela bravura e destemor.
Oh! Terra heróica grandiosa
Destemida, berço de heróis!
Vimos a constante menção honrosa aos soldados “voluntários” que tornaram-se a imagem da bravura heroica do povo ouricuriense. Um outro artigo em elaboração abordará mais intimamente a questão dos voluntários da pátria.
Além da agropecuária, Ouricuri é também conhecida pelo agitado comércio, para muitos a cidade com maior intensidade e potencial comercial da região do Sertão do Araripe Pernambucano, e também por estrar situada no Pólo Gesseiro de Pernambuco (18% das reservas de gipsita nacional). Está localizado em um território geográfico privilegiado, com saída para as principais BR’s e rodovias de acesso a todas as regiões do país, ocupando posição de destaque na região de desenvolvimento do Araripe. Além disto, sedia alguns dos principais órgãos estaduais e federais, a exemplo:
Gerência Regional de Saúde (IX GERES);
Hospital Regional;
Hemocentro Regional (Hemope);
Batalhão de Polícia Militar Voluntários da Pátria (7º BPM);
Instituto Federal – Sertão do Araripe (IF Sertão);
Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS Regional);
PROCON-PE;
Polícia Rodoviária Federal;
Justiça Eleitoral;
Vara da Justiça Federal;
Juizado de Direito e Promotoria de Justiça;
Receita Federal;
Secretaria da Fazenda Estadual;
IPA, INCRA, ITERPE (órgãos ligados a terras e atividades agropecuárias);
Departamento de Trânsito de Pernambuco (CIRETRAN).
Observamos que, em termos de atendimento a serviços públicos, Ouricuri possui uma variedade de recursos dos mais importantes tipos e especificidades nas áreas de saúde, educação, justiça, agropecuária, infraestrutura, trânsito e comercial. Além destes, possui ainda uma ótima rede hoteleira (que cresce de forma intensa) e uma rede bancária e fiscal de amplo atendimento, com os credenciados:
Banco do Brasil;
Banco Santander;
Caixa Econômica Federal;
Banco do Nordeste e;
Banco Bradesco.
Ainda no âmbito de serviços bancários, Ouricuri conta com duas casas lotéricas e os bancos BMG e Lemon Bank, além de vários outros postos conveniados para pagamentos de boletos e taxas diversas. Alia-se a isto a extensa rede de atendimento farmacêutico, de telefonia, oficinas, informática e eletrônicos, clínicas e supermercados, acrescentando a feira que acontece de segunda a sábado, com maior intensidade nas quintas-feiras (dia da maior feira do gado da região) e nos sábados. Toda esta gama de possibilidades atrai centenas de pessoas todos os dias a Ouricuri, movimentando o comércio a ponto de ser criada a Feira do Comércio de Ouricuri, através da Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL, mais um importante órgão que surge na história recente para fomentar o desenvolvimento comercial e social da cidade. Junto a tudo isto, possuem sede no município de Ouricuri organizações não-governamentais, a exemplo da CAATINGA, CHAPADA e PROJETO DOM HÉLDER, além de sindicatos de servidores públicos e sindicato dos trabalhadores rurais e o Grupo de Mulheres Jurema, os quais vem lutando pela garantia dos direitos dos trabalhadores rurais, dos funcionários públicos e dos direitos da mulher. Para a garantia de direitos e ordem pública, somam-se aos anteriores o Conselho Tutelar e o Fórum de Orçamento Público Municipal.
O município de Ouricuri é composto por vários distritos e vilas, sendo a área rural maior do que a urbana em sentido territorial e populacional. Os distritos são os seguintes:
Povoado Santa Rita;
Povoado Passagem de Pedras;
Povoado Jatobá;
Povoado Extrema;
Vila São Francisco (Povoado Cara Branca – Serra do Inácio);
Povoado Barra de São Pedro (que atualmente está em fase de emancipação);
Povoado Lopes;
Povoado Jacaré e;
Povoado Vidéu.
Com uma população de aproximadamente 70.000 pessoas e 44.250 eleitores³, a cidade tem um enorme potencial de crescimento. A cada dia, instalam-se no município novos pontos de comércio e de prestação de serviços. Uma das áreas que mais crescem neste século XXI em Ouricuri é a construção civil, diante da qual a cidade conta com uma ótima rede de centros comerciais de material de construção (incluindo o maior Home Center da área de construção civil da Região do Araripe).
No que tange a educação, Ouricuri ocupa posição destacada na região, com várias universidades da iniciativa privada, estadual e federal. Cursos dos mais diversos segmentos são ofertados, a exemplo dos cursos de Administração, Serviço Social, Licenciaturas em Ciências Biológicas, Letras, Matemática, Pedagogia, Química, Engenharia Agronômica (Agronomia), Educação Física, além de cursos técnicos nas áreas de Informática, Recursos Humanos, Segurança do Trabalho, Agroindústria, Agropecuária, Edificações, Logística, Administração, entre outros. Pós-graduação e mais recentemente o mestrado também estão entre as possibilidades de ascensão acadêmica encontradas em Ouricuri.
COMPOSIÇÃO ADMINISTRATIVA DE OURICURI (créditos: Lécio Lima dos Santos)
PREFEITOS DE 1889 a 1911
1º - Thomaz Pedro de Aquino – Estabeleceu o orçamento de Ouricuri em 8 contos de réis.
Elias Gomes de Souza
2º - Coronel Antônio Marinho Falcão (O VELHO)
3º - Hermógenes Salustriano Granja
4º - Honorato Marinho Falcão
5º - Jobelino Severiano de Macêdo
(Os quatro últimos correspondem ao período de domínio do Conselheiro Rosa e Silva em Pernambuco).
PREFEITOS DE 1912 a 1930
6º - Antonio Pedro da Silva – Elevou o orçamento do município para 12 contos de réis.
1912 a 1915
7º - Anísio Coêlho Rodrigues -1916 a 1919
8º - Hildebrando Damascena Coêlho – 1920 a 1923
9º - Coronel Anísio Coêlho Rodrigues – 1924 a 1927
10º - Antonio Soares – 1928 a 1930
PREFEITOS DE 1930 a 1945
11º - Jobelino Severiano de Macêdo – 1931
12º - Rodrigo Castor da Rocha Falcão – 1931
13º - Capitão José Muniz de Andrade – 1931
14º - Adolfo Soares – 1932
15º - Fernando Idalino Bezerra – 1934 a 1937, afastado do cargo com o golpe de 10 de novembro de 1937.
16º - João Batista Cabral – 1938
17º - Manuel Mário Nunes Peixoto – 1939 Conhecido como Manuel Neco de Serra Talhada.
18º - Teófilo Lins Sobrinho – 1940 a 1942
19º - José de Oliveira Pessoa – 1942 a 1943 – inicia em seu governo um processo de remodelamento da cidade, exigindo para-peito na fechada das residências e rebaixamento das calçadas. Demoliu a antiga cadeia e no local construiu o atual prédio da prefeitura. Daqui saiu para ser prefeito de Arcoverde, retornando em 1997 para receber o Título de Cidadão Ouricuriense na Câmara de Vereadores.
20º - David Peixoto de Melo 1943 a 1944 – Conhecido como David Bacurim.
21º - Oswaldo Rodrigues de Farias - 1944 a 1945
PREFEITOS DE 1945 a 2016
22º - Laudenor Lins – 1945 a 1946
23º - Antonio Anízio de Matos Sobrinho – 1946
24º - Tenente José do Rêgo Barros – 1946
25º - Laudenor Lins – 1947
26º - Fernando Idalino Bezerra – 1947 a 1950
27º - José Patú Sobrinho 1951 a 1954
28º - Laudenor Lins – 1955 a 1958
29º - Sebastião Siqueira Campos – 1959 a 1962
30º - Alonso Freire Mororó – 1963 a 1968
31º - Ulderico Granja Falcão – 1969 a 1972
32º - Valdemiro Marques Soares 1973 a 1976
33º - Gilvan Coriolano da Silva – 1977 a 1982
34º - Carlos Alberto Muniz Coêlho 1983 a 1988
35º - Luiz Dario de Alencar Peixoto 1989 a 1992
36º - Gilvan Coriolano da Silva – 1993 a 1996
37º - Horácio de Melo Sobrinho -1997 a 2000
38º - Francisco Ramos da Silva – Biu Ramos - 2001 a 2004
39º - Francisco Muniz Coêlho – 2005 a 2008
40º - Francisco Ricardo Soares Ramos 2009 a 2012
41º - Antonio Cezar Araújo Rodrigues – Cezar de Preto – 2013 a 2016
OBS. Thomaz Pedro de Aquino aparece nesta relação como o primeiro Prefeito de Ouricuri, porque embora o indicado tenha sido Elias Gomes de Souza e Thomaz seu Sub-Prefeito (atual vice-prefeito) Elias não compareceu para assumir seu posto na data marcada 1º de janeiro de 1889, somente assumindo no dia 05 de novembro daquele ano. Portanto Thomaz Pedro de Aquino foi o primeiro prefeito de Ouricuri.
Considerando a força educacional, comercial, agropecuária, gesseira e de negócios e serviços, o que falta para Ouricuri ser o município que a população tanto almeja?
Uma vez li em um texto de João Ubaldo Ribeiro que diz que não adianta apenas o surgimento de novos líderes. A ideia de transformação tem que iniciar na matéria-prima de um povo, ou seja, partir das próprias pessoas. Ele cita os exemplos do governo de Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique e até o Lula: “Um novo governante trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa, não conseguirá os frutos tão esperados e com a intensidade e qualidade desejada”.
Partindo deste princípio, percebemos que falta ainda a conscientização de que não basta esperamos a boa vontade das lideranças governamentais. Votar nos nossos representantes e ficar apenas assistindo os resultados torna a sociedade passiva. O fato de elegermos não descarta a possibilidade e dever que temos de preservar nossas raízes, nossa cultura, nossas tradições (desde que ainda façam sentido) e zelar pelo patrimônio público, abrindo as portas para o sucesso das novas gerações. As pessoas fazem a diferença (quando querem, claro). O poder emana do povo, para o povo. Vimos pessoas jogando papéis no chão por “preguiça” de procurar lixeiras mais próximas; vimos pessoas depredar o patrimônio público, demostrando falta de consciência social e um descompromisso com as práticas sociais; e então observamos pessoas dizendo que Ouricuri nunca vai pra frente. Mas, esse progresso verdadeiro depende de quem, afinal? A resposta já deve estar na mente do leitor. Depende do capital humano, da matéria-prima do município que somos nós, os ouricurienses. Atuar na sociedade à base da “esperteza congênita” e da sustentação política não irá nos levar ao patamar tão aguardado e merecido que tanto sonhamos para nossa querida Ouricuri. Há quem diga que Ouricuri vem claramente se desenvolvendo em vários setores, e isto é verdade. Contudo, devemos elaborar formas de resgatar um longo tempo de atrasos e malandragens de todos os tipos que deixaram a cidade enferma por tantas décadas. Contudo, ACREDITAR sempre será a melhor escolha, desde que esta escolha venha com atitudes e muita, muita coragem de extinguir um sistema nefasto que sugou por tanto tempo nossas possibilidades de progresso social.
¹ Humberto de Oliveira Lacerda é graduado em História, com Pós-Graduação em História Geral (com ênfase em cultura, patrimônio e preservação). Cursando especialização em Gestão Pública pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) e aluno do Curso Técnico em Recursos Humanos pela Escola Técnica Estadual Prof. Agamenon Magalhães (ETEPAM). É servidor público municipal junto a Secretaria de Educação de Ouricuri (PE) e Professor-Visitante do Instituto Uniesb, nas graduações em História e Pedagogia.
² Professor Lécio Lima dos Santos, foi vereador e gestor da EREM Fernando Bezerra, atuou por várias gestões municipais como Coordenador de Cultura. Líder da banda marcial da EREM Fernando Bezerra, a qual atualmente leva o seu nome. Conhecido por ser um ícone na área da história de Ouricuri, é também artista plástico e possui trabalhos voltados a área histórico-cultural.
³ Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (Eleições 2012). Disponível em: https://www.tre-pe.jus.br/publicanet/ServletMontarPagina.do?codObjetoPagina=9&codObjetoItemMenu=1482