METODOLOGIA - O REI E A OMELETE

23/04/2013 09:46

Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da Terra,

mas apesar disso não se sentia feliz e a cada ano
 ficava mais melancólico. Um dia ele chamou o seu cozinheiro preferido e disse :
"Você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para
a minha mesa as melhores iguarias, de modo que eu lhe sou agradecido.
Agora,porém,quero que você me dê uma última
prova de sua arte.Você deve me preparar uma omelete de
amoras iguais àquelas que eu comi há cinqüenta anos, na infância.
Naquele tempo, meu pai tinha perdido a guerra contra o reino
 vizinho e nós precisamos fugir: viajamos dia e noite
através da floresta,onde afinal acabamos nos perdendo.
Estávamos famintos e cansadíssimos, quando chegamos a uma
cabana onde morava uma velhinha que nos acolheu generosamente.
Ela preparou para nós uma omelete deamoras,quando a comi, fiquei
maravilhado: a omelete era deliciosa e me trouxe novas esperanças
 ao coração.Na época eu era criança, não dei importância à coisa.
Mais tarde, já no trono, vasculhei todo o reino,porém não foi
possível localizá-la.
Agora quero que você me atenda esse desejo: faça uma omelete
de amoras igual à dela.Se você conseguir, eu lhe darei ouro e o
designarei meu herdeiro, meu sucessor no trono.Se você não
conseguir, entretanto, mandarei matá-lo".
Então ,o cozinheiro falou:"Senhor, pode chamar imediatamente o
carrasco.É claro que eu conheço todo o segredo da preparação
de uma omelete de amoras, sei empregar todos os temperos.
Conheço as palavras mágicas que devem pronunciadas enquanto
 os ovos são batidos e a melhor técnica para batê-los.

Mas não me impedirá de ser executado,porque a minha omelete jamais será
igual à da velhinha.Ela não terá o sabor picante do perigo,
a emoção da fuga,não será comida com a sentido alerta do perseguido,
não terá a doçura inesperada da hospitalidade calorosa e do ansiado
repouso, enfim conseguido.Não terá o sabor do presente estranho
 e do futuro incerto".Assim falou o cozinheiro.
O Rei ficou calado, durante algum tempo.
Não muito mais tarde, consta que lhe deu muitos presentes,
tornou-o um homem rico e despediu-o do serviço real.

(Walter Benjamin)

 

O REI E A OMELETE – O que esse texto tem a ver com Metodologia do Ensino?

 

Tratando-se do texto e sua relação com Metodologia do Ensino, pude observar alguns fatores muito importantes e que fazem, perfeitamente, essa relação ser muito próxima. Vejamos: o uso da palavra melancolia possibilita-nos fazer um paralelo com os professores que não inovam suas maneiras de agir no processo de ensino-aprendizagem, ou seja, utilizam os mesmos métodos, as mesmas formas de lidar com a prática docente. Ainda nesta perspectiva, quando se observa no texto “omelete igual a de 50 anos”, isto nos torna viável comparar as práticas docentes de décadas passadas com as do momento presente, visto que os conteúdos, as tendências pedagógicas e os novos paradigmas da educação sofreram transformações contundentes, sendo necessário mudanças na forma de ver o processo de ensino e suas práticas mais significativas. Podemos analisar também quando o texto descreve que “o cozinheiro sabe todos os procedimentos e técnicas de fazer a omelete, mas a sua nunca será igual a da velinha”, nos deixa aberta a discussão no que tange às sutis diferenças de uma prática para outra, mesmo que tenhamos os mesmos ingredientes. Mas a maneira, ou seja, a metodologia de utilizar os ingredientes provavelmente nunca será igual, ou seja, cada um tempera a sua receita docente à sua maneira.

Temos ainda mais um ponto especial sobre o qual fiz minhas observações pessoais: quando o texto descreve “o sabor picante dos perigos”, vejo nesta comparação o fator de inovação na prática do profissional educador e seus desafios, considerando que, para inovar, muitas vezes enfrentamos alguns perigos da profissão e algumas armadilhas nas quais podemos cair. Contudo, mesmo sabendo dessas armadilhas e do perigo a ser enfrentado, o bom profissional deve arriscar-se no desconhecido, mesmo que não obtenha retorno imediato, mas poderá obter resultados excelentes a médio ou longo prazo, considerando uma bela frase que sempre carrego comigo: “você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste”.

Portanto, um ótimo texto para avaliarmos o comportamento profissional e analisarmos de forma crítica-reflexiva as nossas ações enquanto profissionais formadores de opinião e com uma imensa responsabilidade social.

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